Por Davidine S. V. Sim*
Há algum segredo?
17 de agosto de 2016
Existe algum segredo?
A resposta é sim.
Que segredos são esses?
1. O segredo dos detalhes. A forma exterior pode parecer sempre igual e a sequência de movimentos pode parecer familiar, mas a diferença está nos detalhes. A prática tradicional é meticulosa e exige refinamento constante. A verdadeira natureza de um sistema não será percebida e a máxima habilidade não será alcançada se elementos importantes não estiverem evidentes, se forem negligenciados ou não forem ensinados.
2. O segredo do treino sistemático. A habilidade é aprendida passo a passo, segundo uma ordem correta, sistemática e progressiva. Muitos sistemas tradicionais conheceram um florescimento das formas, no entanto muitos de seus fundamentos se perderam. As formas vazias e superficiais que vemos com frequência são resultado de uma ordem incorreta da aprendizagem e da aquisição de habilidades. Daí a importância do tempo de contato regular e constante com um/a professor/a de confiança.,
3. O segredo de “forjar”. Em certos estágios e em certos momentos do processo de aprendizagem, o professor pode reconhecer a necessidade de alterar a postura do aluno ou mudar o modo de treinamento, para facilitar a passagem a um estágio seguinte de desenvolvimento. Fazer uma mudança dessas antes do ponto crítico (antes que um nível apropriado tenha sido alcançado) é inútil. Um professor baseia sua avaliação em sua própria experiência e habilidade assim como em seu compromisso com o progresso do aluno.
Sobre o cultivo…
31 de outubro de 2021
Cultivar o método interno é afinar física e mentalmente o espírito, a intenção, a energia e a condição física (shen, yi, qi, xing). Essa prática não pode ser realizada com descuido, mas sim através de um processo específico de ajustes físicos e mentais, para criar um estado mental (estado de consciência) e fisiológico (corpo e movimento): parte-se de um estado de “pensamentos dispersos” e “corpo desarticulado e desintegração” rumo a um estado de tranquilidade interna (uma mente sossegada), consciência focada, distribuição desimpedida do qi e do sangue e relaxamento físico (soltura, estabilidade, desaceleração e uniformidade).
Para fazer isso, é preciso ter presente que se trata um processo de treinamento físico e mental de longo prazo (xiu yang): “xiu” é corrigir, modificar e reparar o que não corresponde às exigências dos princípios do Taijiquan. Esse processo deve ser conduzido do início ao fim, sendo esse ajuste do corpo e da mente um pressuposto da prática. Devemos considerar algumas perspectivas:
“Do wuji cresce o taiji”. Essa é uma expressão bem conhecida. Nesse contexto, dizemos que uma pessoa que não treinou e incorporou o princípio do taiji nada tem (wu), e aquelas pessoas que fizeram isso tem (alguma coisa). O termo taoista wuji também pode se referir ao corpo. Por isso, dizemos que quando o corpo está silencioso e imóvel está em um estado de wuji. Assim que a mente indica alguma ação, ou assim que a mente toma uma ideia, ocorre o taiji, o corpo passa de “nada” a “alguma coisa”. Isso envolve a ativação e o movimento do espírito, da intenção e da energia. Essa “alguma coisa que aparece do nada” também se refere ao processo em que, as pessoas que praticam taijiquan, pela prática de longo prazo e pelo entendimento, acumulam e produzem um determinado estado de energia e um novo tipo de bio-massa: como diziam os antigos, “algo está no corpo” ou, “o gong-fu eleva o corpo”. Criar algo a partir do nada é o princípio geral da prática do Taijiquan, ao despir e descartar o que é supérfluo e em seguida cultivar e reconstruir.
Entender a distribuição do peso e o centro de gravidade. É fundamental distinguir o substancial do insubstancial. Abordar isso em duas áreas. Primeiro, pelos ajustes físicos: usando os pés, ajustar o centro de gravidade (substancial) para que o corpo esteja centralmente equilibrado, então ajustar o corpo posicionando o peso na planta, no centro ou no calcanhar do pé, conforme necessário, para que todo o corpo esteja equilibrado entre frente e trás. Diferentes movimentos têm diferentes posições que se equilibram mutuamente. Segundo, pelos ajustes mentais – usando a intenção da mente. Onde quer que vá a intenção da mente, o qi acompanha e se concentra (substancial). Como haverá menor concentração de qi na direção oposta, esta será portanto insubstancial. Deve-se prestar atenção cuidadosa durante o processo da prática. Além disso, durante os movimentos, se há força para frente, a mente deve concentrar-se para trás; se há força para trás deve-se manter a mente à frente, e assim por diante.
Circularidade e conexão. Em geral, círculos podem querer dizer muitas coisas. Primeiro, na composição de uma ação, deve haver um arredondamento no processo de cada ação. Segundo, as várias partes do corpo devem se manter arredondadas. Se não for assim, é fácil que se tornem rígidas, estagnando o fluxo e circulação do qi. É isso que quer dizer a expressão: “o método correto se mostra em um espaço circular”. Para ajudar os aprendizes a obter esse arredondamento de acordo com o Taijiquan, são formulados dizeres como “a axila segura um pãozinho quente cozido no vapor”, ou “governe a cintura para controlar o qi e firmar a virilha”. Conexão e continuidade podem ser divididos em três pontos principais: 1. o fluxo de ações contínuo e conectado: não importando quais sejam as posturas, todos os movimentos devem ser uniformes e a conversão de um movimento a outro deve ser contínua. 2. a continuidade do qi: em cada ação, não apenas o corpo, mas também o fluxo de energia deve ser contínuo e conectado. 3. a intenção da mente deve ser contínua e ininterrupta. Para melhorar a qualidade da energia e da integração das mãos, um método simples é imaginar uma esfera entre as mãos, tanto nos movimentos de expansão quanto nos de recolhimento. A esfera se expande e se contrai, mas nunca devemos deixá-la cair. Essa é uma maneira simples de treinar o hábito da continuidade e atenção ininterrupta usando a intenção da mente.
* Davidine Siaw-Voon Sim é uma dessas pessoas que dedica a vida ao Chen Taijiquan, praticando, escrevendo livros e artigos, traduzindo e ensinando na escola Chenjiagou Taijiquan no Reino Unido. Conheça o blog dela no link abaixo.
Tradução: Julia Ruiz. Publicados em: Chinese Whispers